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sexta-feira, 17 de abril de 2015

Pobre menina, virou mulher.

Ser mulher em SP é sobreviver em selva de concreto.
A pequena menina vira mulher logo que menstrua.
Mal sabia, pobrezinha, que ser mulher
Além de uma dádiva é um fardo.
Ser mulher é mais do que uma condição física,
É algo social e cultural.
É quase como uma doutrina.
Ser mulher é viver com medo
De quebrar a unha,
De engordar,
De ser grosseira,
De ser verdadeira.
Ser mulher é ter medo de andar na rua,
Ter medo de um homem caminhando só,
Ter medo de amigos em mesa de bar.
Ser mulher é passar calor em pleno verão,
É não mostrar demais,
Sem mostrar de menos.
Ser mulher é ter diário,
Quarto rosa
E para as sortudas, um namorado.
Passatempo de mulher é costurar,
Obrigação mínima é cozinhar.
Limpeza é algo inato,
Sorrir querendo chorar é um hábito.
Mulher é um ser em equilíbrio mesmo em ruínas,
É ser feminina.
É sentir culpa mesmo sem ser culpada,
É entender mesmo sem ser entendida.
Ser mulher é não ser homem
E se apaixonar por um.
Parecer é mais importante do que ser,
Ter cintura fina é melhor do que qualquer pizza
E ter peito grande é sempre relevante.
Nunca se esqueça que ter sapatos tem que ser o seu pior vício,
Que álcool só aos domingos
E que cigarro não combina com cabelo lavado.
Ser mulher é ser devota à família,
Ser boa mãe, boa filha e boa tia.
Ser esposa carinhosa,
Calada
E boa amiga.
Ser mulher em SP é é sobreviver em selva de concreto.
Ser mulher em SP é ser mulher em qualquer parte.

– Clara Rocca

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