PALHAÇOS
Cleide Canton
(Inspirado no belíssimo poema "Palhaço", de Terê Penhabe)
Palhaços somos todos, minha amiga,
num mundo tão distante da harmonia,
que cada gesto acaba em covardia
naquele que o amor não mais mitiga.
Palhaços procurando em picadeiros,
aplausos, um abraço e até censuras
que possam derrotar as amarguras
dos anjos que já foram mensageiros.
Palhaços encolhidos e descrentes
dos sonhos rasurados pelo avesso,
tingidos de outras cores e sem preço,
expostos em vitrines transparentes.
Palhaços a bailar no próprio riso,
tecendo novas teias coloridas
em ramas que já nascem bipartidas
ao sol que também chora, circunciso.
Palhaços qu'inda fazem a alegria
em tempos onde o pranto é dominante,
regado a fogo e fel no peito amante,
imerso no matiz da nostalgia.
Palhaços no amanhã após o agora,
e depois, lá na praças do infinito,
segurando o clamor do próprio grito
a esconder que palhaço também chora.
SP, 29/05/2010
14:40 horas